sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

FICÇÃO OU AUTOBIOGRAFIA AMOROSA?


A obra Marília de Dirceu é uma das mais belas da poesia árcade brasileira. Tomás Antonio de Gonzaga, poeta da inconfidência, a contruiu com fatos e sentimentos pessoais o que dificulta separar o biográfico da invenção poética. Mas para fazer versos tão gradiosos só sob forte inspiração:

"Os teus olhos espalham luz divina,
A quem a luz do Sol em vão se atreve:
Papoula, ou rosa delicada, e fina,
Te cobre as faces, que são cor de neve.
Os teus cabelos são uns fios d’ouro;
Teu lindo corpo bálsamos vapora.
Ah! Não, não fez o Céu, gentil Pastora,
Para glória de Amor igual tesouro.
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!"


Marilia, a musa da lírica, torna-se, assim, representação do amor, ou antes, do Amor do poeta. Ele volta-se para a namorada juvenil como se ela materializasse a idéia que ele faz do Amor. Na segunda lira da primeira parte Marilia e o Deus Cupido formam uma só pessoa A crença no Amor advém da idéia que habita o poeta, a idéia brotada da sua condição de sensitivo e de homem culto que edifica na mente uma ficção ou ideal (o do amor) e projeta-o e o concretiza em Marilia:

Tu, Marilia, Agora vendo
De amor o lindo retrato,
Contigo estarás dizendo
Que é este o retrato teu.
Sim, Marilia, a copia é tua,
Que Cupido é Deus suposto: se há Cupido, é só teu rosto,
que ele foi quem venceu.”

A obra é dividida em duas partes e a segunda parte das líricas o poeta escreveu após ser preso em 1789. Nessa fase Dirceu é o próprio centro dos poemas, e nos quais Gonzaga retrata um depoimento sobre sua situação pessoal revelando a autêntica índole do sentimento dele por Maria Dorotéia. Assim surgi uma poesia ultra romântica, isto é, não oriunda de um sentimento mitificado mas experimentado na carne e sublimado em poemas de alta pulsação estética. A valorização do subjetivismo do autor se presentifica na mescla personagem/autor.

O sofrimento gerado pela impossibilidade do amor (apelo sentimental) é outra característica do romantismo que, às vezes, culmina na morte como única solução:

“Meus olhos te viram, ah! Nessa hora
Teu Retrato fizeram,e tão forte,
Que entendo que agora
Só pode apagá-lo
o pulso da morte.”




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