quarta-feira, 27 de maio de 2009

MULHER


Uma faca afiada gera um corte fundo
A mão apertada sobre sangue que jorra
Alado o escarlate não cessa mas choca
A água do olho que é charco profundo

A faca cega gera um peito calado
Sem força a mão já não presta
O sangue passou e dele só resta
A cicatriz que identifica o amado...

sábado, 23 de maio de 2009

Viagem da alma

“Fantasma” é um poema que resume o todo da obra de Cecilia Meireles. O titulo nos remete a uma temática muito recorrente na obra da poetisa: a passagem e o desprazer da vida, a morte e a efemeridade das coisas. No inicio da leitura percebe-se que o poema é construído em 2° pessoa , portanto um dialogo, mas sem a presença lingüística do interlocutor que no quarto terceto se identifica como o próprio locutor. A dualidade alma/ corpo simboliza a dualidade vida/morte.

Fantasma

Para onde vais, assim calado,
de olhos hirtos, quieto e deitado,
as mãos imóveis de cada lado?

Tua longa barca desliza
por não sei que onda, límpida e lisa,
sem leme, sem vela, sem brisa...

Passas por mim na órbita imensa
de uma secreta indiferença,
que qualquer pergunta dispensa.

Desapareces do lado oposto
e, então, com súbito desgosto,
vejo que teu rosto é o meu rosto,

e que vais levando contigo,
pelo silencioso perigo
dessa tua navegação,

minha voz na tua garganta,
e tanta cinza, tanta, tanta,
de mim, sobre o teu coração!