terça-feira, 12 de outubro de 2010

O MELHOR DE “SE”

Se todas as preocupações fossem despreocupadas
Se todos os sentimentos, intensos
Se as pessoas, sinceras
O mundo seria melhor, menos denso.

O melhor é hipótese
Que o "se" explica
Ou complica!
Afinal, é suposição!



domingo, 16 de maio de 2010

Com que moral?

Peço licença nesse espaço literário para comentar uma declaração inesperada de um religioso. Li, recentemente, que na Assembleia Geral da CNBB, dom Dadeus, arcebispo de Porto Alegre, fez a seguinte declaração: “Antigamente, não se falava em homossexual. E era discriminado. Quando se começa a dizer que eles têm direitos, direitos de se manifestar publicamente, daqui a pouco vão achar os direitos dos pedófilos”. Uma afirmação infeliz e ignorante.

Em parte o arcebispo está certo. Digo em parte porque direitos de se manifestar publicamente todos as pessoas têm. Afinal isso é garantido pela Constituição Federal que apresenta direitos de liberdade de manifestação do pensamento, da criação, da expressão e da informação. Incluo nesse assunto, para ilustrar, uma manifestação inédita que presenciei no sábado passado em Belo Horizonte. Um grupo de manifestantes subia a Afonso Pena cantando: “Eu sou maconheiro com muito orgulho, com muito amor”. Era uma manifestação para a legalização da maconha, devidamente organizada e com proteção policial. Isso é importante lembrar. Eles estavam exercendo o direito da manifestação pública.

Por outro lado, o bispo ao dizer que “antigamente não se falava em homossexual” está cometendo um grande erro, pois o homossexualismo é uma prática demasiadamente relatada na literatura e na história. Safo, maior poetisa lírica da Antigüidade e reconhecida até por Platão, já manifestava o sentimento homossexual pela sua aluna Átis. Isso antes de Cristo. Posso afirmar que esse homossexualismo é noutro contexto, mas não deixa de ser uma manifestação dos sentimentos, afinal os poemas de Safo relatam esse amor proibido e impossível por Átis. Talvez a antiguidade do bispo seja outra.

O que mais incomoda na manifestação do religioso é a comparação entre os direitos conquistados pelos homossexuais com os pedófilos. Isso demonstra outra grande ignorância de um bispo que pode ser considerado um sujeito estudado e que apresenta autoridade. Ignorância porque ele iguala um grupo consciente e que defende a diversidade com outro grupo de pessoas doentes e permissivas. Talvez o bispo esteja preocupado em se defender, afinal os escândalos atuais de pedofilia no Brasil e no mundo envolvem a Igreja. Isso fica claro porque na mesma 48° Assembleia da CNBB ele manifesta seu posicionamento: “A Igreja ir lá e acusar seus próprios filhos seria um pouco estranho”. Dom Dadeus parece um pouco desesperado e perdido nos acontecimentos atuais e históricos.

Enfim, o posicionamento do arcebispo é o mesmo que o da Igreja na Idade Média a qual por volta do século XI queimou toda a obra de Safo. Obra reunida pelos Alexandrinos e que graças a pesquisas no século XIX de arqueólogos britânicos descobriram cerca de seiscentos versos, o bastante para considerá-la como a maior poetisa lírica da Antigüidade. Acredito que dentro desse contexto dom Dadeus deveria falar o que pensa e defender a moral cristã, mas pensar como fala é importante para que a Igreja continue a defender o direito de todos à igualdade. Portanto homossexualismo é coisa antiga que só o bispo não ouviu falar e por isso faz comparações indevidas, mesmo sem moral para isso.

domingo, 2 de maio de 2010

Poeta, poetinha camarada...

As obras de Vinicus de Moraes estão disponiveis na Brasiliana Digital (USP). O internauta tem acesso irrestrito a um acervo de livros, periódicos e manuscritos de autores diversos. O acervo é composto por obras da USP e do grande José Mindlin. Livros digitais com edições, às vezes, inéditas.


A obra do Vinicis de Moraes, desde seu primeiro livro em 1933, já está disponivel. Acesse e conheça mais a obra desse grande dramatrugo, poeta e músico da nossa modernidade.




segunda-feira, 5 de abril de 2010

Evidências


Gosto da vida! Respirar...expirar...! Um dinamismo despretensioso, mas que de tão belo transforma a beleza. Gosto da vida. Ela é simples e difícil, o contrário, a morte, é tão fácil. Mas pela dificuldade é que gosto da vida: “Você comerá o pão com o suor do seu rosto”, palavras benditas! Não sei se antes delas a vida era tão completa. Gosto da vida, mesmo com toda crueldade presente nos corações dos viventes. Sei que o humano é mal, mas a vida não deixa de ser bela por isso. Gosto, sim, da vida! Ela me faz perceber, aos poucos, que nas veias do tempo ela se esvai e deixa experiências nos mais velhos e vitalidade nos mais moços. Sei que, apesar disso, ela é curta para alguns e demasiadamente longa para outros. Injusta? Não! Adequada! Gosto da vida, como ela é, como se apresenta em cada circunstância, mesmo naquelas que viver não se faz necessário. Gosto da vida porque ela é incerta e os racionais viventes buscam certezas momentâneas jurando, várias vezes, amores eternos sem saber que o eterno sempre acaba! Viver, como dizia um jagunço, é muito perigoso!

Clóvis Magalhães
04-2010

sexta-feira, 2 de abril de 2010

BUSCANDO A CRISTO


GREGÓRIO DE MATOS (1623-1669)

A vós correndo vou, braços sagrados,

Nessa cruz sacrossanta descobertos,

Que, para receber-me, estais abertos,

E, por não castigar-me, estais cravados.


A vós, divinos olhos, eclipsados

De tanto sangue e lagrimas abertos,

Pois, para perdoar-me, estais despertos,

E, por não condenar-me, estais fechados,


A vós, pregados pés, por não deixar-me,

A vós, sangue vertido, para ungir-me,

A vós, cabeça baixa, p'ra chamar-me.


A vós, lado patente, quero unir-me,

A vós, cravos preciosos, quero atar-me,

Para ficar unido, atado e firme.

segunda-feira, 8 de março de 2010

CORA CORALINA: EXEMPLO DE MULHER

(Ana Lins do Guimarães Peixoto Brêtas), 20/08/1889 — 10/04/1985, é a grande poetisa do Estado de Goiás. Em 1903 já escrevia poemas sobre seu cotidiano, tendo criado, juntamente com duas amigas, em 1908, o jornal de poemas femininos "A Rosa”. Cora Coralina era chamada Aninha da Ponte da Lapa. Tendo apenas instrução primária e sendo doceira de profissão comprava doces das rejeitadas prostitutas para vendê-los.
Em 1911 conhece o advogado divorciado Cantídio Tolentino Brêtas, com quem foge. Vai para Jaboticabal (SP), onde nascem seus seis filhos. Seu marido a proíbe de integrar-se à Semana de Arte Moderna, a convite de Monteiro Lobato, em 1922. Em 1928 muda-se para São Paulo (SP). Em 1934, torna-se vendedora de livros da editora José Olimpio que, em 1965, aos 76 anos, lança seu primeiro livro, "O Poema dos Becos de Goiás e Estórias Mais”.


Mulher da Vida, minha irmã (Cora Coralina)


De todos os tempos.
De todos os povos.
De todas as latitudes.
Ela vem do fundo imemorial das idades e
carrega a carga pesada dos mais
torpes sinônimos,
apelidos e apodos:
Mulher da zona,
Mulher da rua,
Mulher perdida,
Mulher à-toa.
Mulher da Vida, minha irmã.
Pisadas, espezinhadas, ameaçadas.
Desprotegidas e exploradas.
Ignoradas da Lei, da Justiça e do Direito.
Necessárias fisiologicamente.
Indestrutíveis.
Sobreviventes.
Possuídas e infamadas sempre por
aqueles que um dia as lançaram na vida.
Marcadas. Contaminadas,
Escorchadas. Discriminadas.
Nenhum direito lhes assiste.
Nenhum estatuto ou norma as protege.
Sobrevivem como erva cativa dos
caminhos,
pisadas, maltratadas e renascidas.
Flor sombria, sementeira espinhal
gerada nos viveiros da miséria, da
pobreza e do abandono,
enraizada em todos os quadrantes da
Terra.
Um dia, numa cidade longínqua, essa
mulher corria perseguida pelos homens
que a tinham maculado.
Aflita, ouvindo o tropel
dos perseguidores e o sibilo das
pedras,
ela encontrou-se com a Justiça.
A Justiça estendeu sua destra poderosa e
lançou o repto milenar:
“Aquele que estiver sem pecado
atire a primeira pedra”.
As pedras caíram
e os cobradores deram as costas.
O Justo falou então a palavra de eqüidade:
“Ninguém te condenou, mulher...
nem eu te condeno”.
A Justiça pesou
a falta pelo peso do sacrifício e este excedeu àquela.
Vilipendiada, esmagada.
Possuída e enxovalhada,
ela é a muralha que há milênios detém
as urgências brutais do homem para que
na sociedade possam coexistir a inocência,
a castidade e a virtude.
Na fragilidade de sua carne maculada
esbarra a exigência impiedosa do macho.
Sem cobertura de leis
e sem proteção legal,
ela atravessa a vida ultrajada
e imprescindível, pisoteada, explorada,
nem a sociedade a dispensa
nem lhe reconhece direitos
nem lhe dá proteção.
E quem já alcançou o ideal dessa mulher,
que um homem a tome pela mão,
a levante, e diga: minha companheira.
Mulher da Vida, minha irmã.
No fim dos tempos.
No dia da Grande Justiça do Grande Juiz.
Serás remida e lavada
de toda condenação.
E o juiz da Grande Justiça
a vestirá de branco em
novo batismo de purificação.
Limpará as máculas de sua vida
humilhada e sacrificada
para que a Família Humana
possa subsistir sempre,
estrutura sólida e indestrurível
da sociedade,
de todos os povos,
de todos os tempos.
Mulher da Vida, minha irmã.
Declarou-lhe Jesus: “Em verdade vos digo
que publicanos e meretrizes vos
precedem no Reino de Deus”. Evangelho de São Mateus 21, ver.31.

Poesia dedicada, por Coralina, ao Ano Internacional da Mulher em 1975.
Poemas dos becos de Goiás, Global, 1983 - S.Paulo, Brasil


terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Blá-blá-blá...


"Há oradores que, terminando o discurso, deviam ser presos por terem roubado o tempo da gente"
Sergio Porto, escritor
"Tô cansado de tanta caretice, tanta babaquice Desta eterna falta do que falar"
Cazuza, cantor e compositor

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Literatura e Carnaval: Dom Quixote de La Mancha, o cavaleiro dos sonhos impossíveis

da

Ontem, os desfiles do grupo especial do Rio de Janeiro tiveram como abre-alas a União da Ilha do Governador e, mais uma vez, a literatura recebe um carinho especial no carnaval brasileiro. Um clássico da literatura universal “Dom Quixote de La Mancha” foi a obra homenageada da noite. A escola, campeã do grupo de acesso no ano passado, levou para a avenida a história de aventuras de um fidalgo espanhol que apresentava, aproximadamente, cinquenta anos e, nos intervalos dos afazeres, gostava de ler livros de cavalaria. O prazer pela leitura cresceu tanto que o fidalgo vendeu parte de suas terras para comprar livros de cavalaria e enriquecer cada vez mais sua imaginação. Porém as histórias invadiram a imaginação do leitor que resolveu tornar-se um cavaleiro andante em busca das aventuras e viver tudo que havia lido. Esse cavaleiro escolheu o nome de Dom Quixote de La Mancha que montado no cavalo batizado por Rocinante e acompanhado pelo fiel escudeiro Sancho Pancha investiu em aventuras oníricas.

O cenário medieval e as tradições espanholas como touradas, castanholas e leques, instrumento de determinação feminina, enriqueceram a escola que soube levar para a Marquês de Sapucaí a história medieval do espanhol Miguel de Cervantes. A segunda obra mais comercializada no mundo foi publicada em dois volumes, em 1605 e 1615 e é uma sátira sobre os romances de cavalaria de muitos leitores daquela época. Um livro crítico que preza pelo lúdico da insensatez e pelo universo dos sonhos tão procurados pelos leitores.

Segue o samba-enredo para quem tem uma louca ilusão e um Quixote no coração!

Voltou a Ilha
Delira o povo de alegria
Nessa folia sou fidalgo, sou leitor
Cavaleiro sonhador
Meu mundo é de magia
Vou cavalgar no Rocinante
Meu escudeiro é Sancho Pança
Se Dulcineia é meu amor
Quem eu sou?
Dom Quixote de La Mancha
O gigante moinho me viu, deu no pé
O povo grita... Olé
Nesse feitiço tem castanhola
A bateria hoje deita e rola
Vesti a fantasia, fui à luta
Venci manadas, rebanhos
Fiz de uma bacia meu elmo de glórias
Meus livros se perderam pela história
Enfim, fui vencido pelo Branca Lua
Voltei pra casa esquecendo as aventuras
O tempo ficou com meus ideais
Quimeras são imortais

A Ilha vem cantar
Mais um sonho impossível... Sonhar!
Quem é que não tem uma louca ilusão
E um Quixote no seu coração


Autores: Grassano, Gabriel Fraga, Márcio André Filho, João Bosco, Arlindo Neto, Gugu das Candongas, Marquinhus do Banjo, Barbosão, Ito Melodia e Léo da Ilha

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Literatura e Carnaval: faces de uma moeda!



“Dos diversos instrumentos do homem, o mais
assombroso é, sem dúvida, o livro. Os demais
são extensão do seu corpo... mas o livro é outra
coisa, o livro é uma extensão da memória e da
imaginação”.
(Jorge Luís Borges
)

Em 1931, Jorge Amado, com apenas 19 anos de idade, lançava o livro “O País do Carnaval”. Esse romance apresenta a figura de Ricardo Braz, uma dos personagens do romance. Necessitado de carinho, verdadeiro peregrino do sentimento, tinha uma grande sede de amor. Para ele, a finalidade da vida nada tinha a ver com dinheiro, prestígio político ou prazeres - o sentido da vida estava no amor. Idealizava para si uma jovem de grandes olhos tristes e que fosse o tipo da esposa perfeita. E proclamava: "A satisfação da Carne não dá felicidade a ninguém". Ilustrando esse romance as cenas carnavalescas atuam como fundo de cenário.

Outros autores da literatura usaram o cenário e as personagens desta festa folclórica. Foi o caso do mineiro Aníbal Machado no conto "A Morte da Porta-Estandarte" o qual renova o tema universal do ciúme que, de tal modo irreprimível, a personagem se transforma em assassino da pessoa a quem se diz amar.

O poeta Manuel Bandeira também se apropriou do tema na edição de seu segundo livro "Carnaval". Mais tarde, o autor faria a seguinte declaração: "Com Carnaval", recebi o meu batismo de fogo". O poeta inicia seu livro com os seguintes versos: "Quero beber, cantar asneiras...”. O livro foi alvo de muitas criticas da sociedade letrada e admiradora da formalidade Parnasiana por apresentar o verso livre e libertinagens”.

Outros poetas também incluíram o carnaval em suas líricas. Raimundo Correia escreveu o soneto "Tristeza de Momo" uma figura da mitologia adaptada para o nosso carnaval. Já Vinícius de Moraes com a peça, "Orfeu da Conceição", foi premiado no IV Centenário da capital paulista.

Os autores da literatura brasileira não deixaram de admirar, cada um com uma abordagem, essa grande festa popular. Por outro lado a admiração é recíproca. Escolas de samba com características predominantemente populares e marcadas pela perspectiva da oralidade vislumbraram e transformaram a manifestação por excelência da cultura escrita, a literatura, em matéria de samba.

Varias obras e autores foram adaptados para enriquecer os enredos carnavalescos. Em 1952 a Mangueira levou para avenida a homenagem ao poeta Gonçalves Dias e seus poemas indianistas. Em 1976, o poeta Jorge de Lima foi contemplado pelo carnaval especificamente através da obra “Invenção de Orfeu” que virou samba da Unidos de Vila Isabel. “Os Sertões”, obra de Euclides da Cunha, com mais de quinhentas páginas contribuiu para a construção de um dos maiores sambas-enredo da escola “Em Cima da Hora”. A tradicional Portela, em 1966, não deixou de prestar sua homenagem à literatura através da obra “Memórias de um sargento de milícias” levando para a passarela do samba as peraltices da personagem Leonardo Pataca nos tempos do Rei. A Império Serrano repetiu a dose. Em seu primeiro carnaval, em 1948, a escola homenageou o poeta baiano Castro Alves e em 1989 apresentou o enredo “Jorge Amado, Axé Brasil”. O samba descreve uma grande festa ocorrida na tenda dos milagres com personagens consagrados do autor, tais como o pai-de-santo Jubiabá, Teresa Batista que dança um samba de roda com Tieta e o cambaleante Quincas Berro D Água, além de Gabriela e Dona Flor que dividem as panelas preparando o vatapá que vai alimentar aquela gente toda. O escritor baiano compareceu ao desfile, apresentando-se em um carro alegórico cercado de amigos e mães de santo e escoltado por Zélia Gattai, que desfilou com os trajes típicos da boa terra.

Anos mais tarde, em 2002, a mesma Império Serrano conseguiu levar um escritor pernambucano para a Marquês de Sapucaí – "Aclamação e Coroação do Imperador da Pedra do Reino: Ariano Suassuna" o enredo que contou com a presença do escritor e de sua mulher, Zélia. A Vila Isabel, em 1980 e a Mangueira, campeã do carnaval de 1987, homenagearam o poeta Carlos Drummond de Andrade mas não conseguiram de forma alguma arrastar para a folia o poeta de mineiro que em 87 já estava com a saúde debilitada.
No último carnaval, A Mocidade Independente de Padre Miguel juntou no mesmo enredo dois grandes nomes da literatura brasileira Machado de Assis e Guimarães Rosa. Este completou o centenário de nascimento e aquele da morte. Sinhazinhas, barões do Império, bacharéis e demais personagens do Bruxo do Cosme Velho dividiram a passarela com os jagunços e sertanejos Riobaldo, Diadorim, Joca Ramiro e Zé Bebelo. Personagens imortais das nossas letras.

Para finalizar essa parceria tão completa que apresenta “Histórias de amor sem ponto final”, a campeã do carnaval 2009 também apostou na literatura. Com o enredo “Histórias sem fim” a Salgueiro levará para a avenida a invenção da impressa por Gutemberg e as ricas fantasias que a literatura possibilita. Segue o samba enredo da escola e que no livro do carnaval sejam lidas páginas agradáveis e cheias de fantansias!!!
HISTÓRIAS SEM FIM (Salgueiro 2010)

Sonhei... no infinito das histórias
Iluminando a memória, me encantei
Brilhou... realidade e fantasia
Como nunca imaginei
Na arte do saber um novo amanhecer
Divina criação, primeira impressão
O livro sagrado da vidaVirtude pra eternidade
A leitura estimulandoA mente da humanidade
Eu viajei nessa magia
De alma e coração
Na fonte da sabedoria
Busquei a minha inspiração


Páginas descrevendo pensamentos
Clássicos, ideais e sentimentos
Romances... aventuras
Quanta riqueza na nossa literatura
O faz-de-conta inocente da criança
Ficou guardado na lembrança
Mistérios... suspense... emoção
É o hábito de ler, folheando com prazer
Muita além de uma visão
Mensagens de esperança
Clareando a imaginação


Uma história de amor
Sem ponto final"
Academia do samba" é Salgueiro
No "livro do meu carnaval"

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

FICÇÃO OU AUTOBIOGRAFIA AMOROSA?


A obra Marília de Dirceu é uma das mais belas da poesia árcade brasileira. Tomás Antonio de Gonzaga, poeta da inconfidência, a contruiu com fatos e sentimentos pessoais o que dificulta separar o biográfico da invenção poética. Mas para fazer versos tão gradiosos só sob forte inspiração:

"Os teus olhos espalham luz divina,
A quem a luz do Sol em vão se atreve:
Papoula, ou rosa delicada, e fina,
Te cobre as faces, que são cor de neve.
Os teus cabelos são uns fios d’ouro;
Teu lindo corpo bálsamos vapora.
Ah! Não, não fez o Céu, gentil Pastora,
Para glória de Amor igual tesouro.
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!"


Marilia, a musa da lírica, torna-se, assim, representação do amor, ou antes, do Amor do poeta. Ele volta-se para a namorada juvenil como se ela materializasse a idéia que ele faz do Amor. Na segunda lira da primeira parte Marilia e o Deus Cupido formam uma só pessoa A crença no Amor advém da idéia que habita o poeta, a idéia brotada da sua condição de sensitivo e de homem culto que edifica na mente uma ficção ou ideal (o do amor) e projeta-o e o concretiza em Marilia:

Tu, Marilia, Agora vendo
De amor o lindo retrato,
Contigo estarás dizendo
Que é este o retrato teu.
Sim, Marilia, a copia é tua,
Que Cupido é Deus suposto: se há Cupido, é só teu rosto,
que ele foi quem venceu.”

A obra é dividida em duas partes e a segunda parte das líricas o poeta escreveu após ser preso em 1789. Nessa fase Dirceu é o próprio centro dos poemas, e nos quais Gonzaga retrata um depoimento sobre sua situação pessoal revelando a autêntica índole do sentimento dele por Maria Dorotéia. Assim surgi uma poesia ultra romântica, isto é, não oriunda de um sentimento mitificado mas experimentado na carne e sublimado em poemas de alta pulsação estética. A valorização do subjetivismo do autor se presentifica na mescla personagem/autor.

O sofrimento gerado pela impossibilidade do amor (apelo sentimental) é outra característica do romantismo que, às vezes, culmina na morte como única solução:

“Meus olhos te viram, ah! Nessa hora
Teu Retrato fizeram,e tão forte,
Que entendo que agora
Só pode apagá-lo
o pulso da morte.”