domingo, 16 de maio de 2010

Com que moral?

Peço licença nesse espaço literário para comentar uma declaração inesperada de um religioso. Li, recentemente, que na Assembleia Geral da CNBB, dom Dadeus, arcebispo de Porto Alegre, fez a seguinte declaração: “Antigamente, não se falava em homossexual. E era discriminado. Quando se começa a dizer que eles têm direitos, direitos de se manifestar publicamente, daqui a pouco vão achar os direitos dos pedófilos”. Uma afirmação infeliz e ignorante.

Em parte o arcebispo está certo. Digo em parte porque direitos de se manifestar publicamente todos as pessoas têm. Afinal isso é garantido pela Constituição Federal que apresenta direitos de liberdade de manifestação do pensamento, da criação, da expressão e da informação. Incluo nesse assunto, para ilustrar, uma manifestação inédita que presenciei no sábado passado em Belo Horizonte. Um grupo de manifestantes subia a Afonso Pena cantando: “Eu sou maconheiro com muito orgulho, com muito amor”. Era uma manifestação para a legalização da maconha, devidamente organizada e com proteção policial. Isso é importante lembrar. Eles estavam exercendo o direito da manifestação pública.

Por outro lado, o bispo ao dizer que “antigamente não se falava em homossexual” está cometendo um grande erro, pois o homossexualismo é uma prática demasiadamente relatada na literatura e na história. Safo, maior poetisa lírica da Antigüidade e reconhecida até por Platão, já manifestava o sentimento homossexual pela sua aluna Átis. Isso antes de Cristo. Posso afirmar que esse homossexualismo é noutro contexto, mas não deixa de ser uma manifestação dos sentimentos, afinal os poemas de Safo relatam esse amor proibido e impossível por Átis. Talvez a antiguidade do bispo seja outra.

O que mais incomoda na manifestação do religioso é a comparação entre os direitos conquistados pelos homossexuais com os pedófilos. Isso demonstra outra grande ignorância de um bispo que pode ser considerado um sujeito estudado e que apresenta autoridade. Ignorância porque ele iguala um grupo consciente e que defende a diversidade com outro grupo de pessoas doentes e permissivas. Talvez o bispo esteja preocupado em se defender, afinal os escândalos atuais de pedofilia no Brasil e no mundo envolvem a Igreja. Isso fica claro porque na mesma 48° Assembleia da CNBB ele manifesta seu posicionamento: “A Igreja ir lá e acusar seus próprios filhos seria um pouco estranho”. Dom Dadeus parece um pouco desesperado e perdido nos acontecimentos atuais e históricos.

Enfim, o posicionamento do arcebispo é o mesmo que o da Igreja na Idade Média a qual por volta do século XI queimou toda a obra de Safo. Obra reunida pelos Alexandrinos e que graças a pesquisas no século XIX de arqueólogos britânicos descobriram cerca de seiscentos versos, o bastante para considerá-la como a maior poetisa lírica da Antigüidade. Acredito que dentro desse contexto dom Dadeus deveria falar o que pensa e defender a moral cristã, mas pensar como fala é importante para que a Igreja continue a defender o direito de todos à igualdade. Portanto homossexualismo é coisa antiga que só o bispo não ouviu falar e por isso faz comparações indevidas, mesmo sem moral para isso.

4 comentários:

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